Segunda Poética: “Tortura” – Florbela Espanca

Idianara Lira

Tortura

Tirar dentro do peito a Emoção,
A lúcida Verdade, o Sentimento!
– E ser, depois de vir do coração,
Um punhado de cinza esparso ao vento!…

Sonhar um verso de alto pensamento,
E puro como um ritmo de oração!
– E ser, depois de vir do coração,
O pó, o nada, o sonho dum momento!…

São assim ocos, rudes, os meus versos:
Rimas perdidas, vendavais dispersos,
Com que eu iludo os outros, com que minto!

Quem me dera encontrar o verso puro,
O verso altivo e forte, estranho e duro,
Que dissesse, a chorar, isto que sinto!!

(Florbela Espanca)

Florbela Espanca (1894-1930), ignorada pela preconceituosa crítica do início do século, é considerada hoje em dia a mais sublime voz feminina da poesia portuguesa de todos os tempos.

Seus sonetos são um ousado diário íntimo, onde palpitam as ânsias de uma mulher ardente, a clamar pelas carícias de um amor impossível. O caudal dessa insatisfação veio desembocar na trágica madrugada de seu 36º aniversário, quando a bela e carnal alentejana se calou para sempre, após uma dose excessiva de barbitúricos.

4 Comments

  • Vanessa

    14 de setembro de 2021 at 12:39

    Olá!
    Essa poesia eu não conhecia, achei belíssima , algo que toca no fundo nossos sentimentos profundos.
    Beijos.

    https://www.parafraseandocomvanessa.com.br/

    1. Idianara Lira

      7 de março de 2023 at 22:35

      Oi Vanessa! A poesia de Florbela Espanca tem esse poder de impactar com sua forte carga emocional. Obrigada pela visita. Beijos!

  • Vera Maria Martins Alves

    8 de fevereiro de 2023 at 19:07

    Se não me engano Fagner musicou esse poema.

    1. Idianara Lira

      7 de março de 2023 at 22:41

      Oi Vera! Nossa não sabia, acabei de pesquisar na internet e você tem razão. Obrigada pela dica! Beijos!

ESCREVA UM COMENTÁRIO

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Post Anterior Próximo Post