Citações do livro: Água fresca para as flores – Valérie Perrin
“É sempre assim com a morte. Quanto mais antiga ela é, menos poder tem sobre os vivos. O tempo aniquila a vida. O tempo aniquila a morte. ” (pág. 17)
“É aqui que recolho as lágrimas, as confissões, a raiva, os suspiros, o desespero e as risadas dos meus coveiros.” (pág. 25)
“Ele sorri pela segunda vez e sai da sala de estar/cozinha. Por costume, acendo a luz do cômodo. Nunca a acendo quando alguém entra na minha casa, só quando a pessoa vai embora. Para substituir sua presença pela luz. Um antigo costume de criança órfã.” (pág. 29)
“Amanhã vamos ter um enterro às quatro da tarde. Um novo residente para o meu cemitério. Um homem de cinquenta e cinco anos, que morreu por ter fumado demais. Enfim, isso foi o que os médicos disseram. Eles nunca dizem que um homem de cinquenta e cinco anos pode morrer por não ter sido amado, não ter sido ouvido, ter recebido contas demais, ter solicitado empréstimos demais, ter visto os filhos crescerem e irem embora, sem se despedir de verdade. Uma vida de críticas, uma vida de caras feias.” (pág. 31)
“Depois que os portões são fechados, o tempo é meu. Sou a única dona dele. É um luxo ser dona do próprio tempo. Acho que é um dos maiores luxos que um ser humano pode dar a si mesmo.” (pág. 46)
“Eu falo sozinha. Falo com os mortos, os gatos, os lagartos, as flores, Deus (nem sempre com muita delicadeza). Falo comigo mesma. Me faço perguntas. Me indago. Me incentivo.” (pág. 73)
“Aquela desilusão tinha feito outra coisa nascer em mim. Uma coisa forte. À medida que eu via minha barriga crescer, ´passei a querer voltar a aprender. Saber o que realmente significava ter água na boca. Não através de alguém, mas das palavras. As que estão nos livros, das quais eu tinha fugido porque me causavam medo.” (pág. 78)
“Por que nos sentimos atraídos por livros como nos sentimos por pessoas? Por que nos sentimos atraídos por capas como por um olhar, uma voz que parece familiar, conhecida, uma voz que nos faz desviar do caminho, faz erguer os olhos, que chama a nossa atenção e que pode mudar o curso da nossa existência.” (pág. 79)
“Temos que aprender a oferecer nossa ausência àqueles que não entenderam a importância da nossa presença.” (pág. 95)
“Adoro dar vida. Semear, regar, recolher. E recomeçar todo ano. Adoro a vida como ela está hoje. Ensolarada. Adoro estar em meio à essência de tudo.” (pág. 195)
“Acho que as heranças não deviam existir. Acho que devíamos doar tudo para as pessoas que amamos quando ainda estamos vivos. Nosso tempo e nosso dinheiro. As heranças foram inventadas pelo diabo para que as famílias se destruam. Só acredito na doação em vida. Não nas promessas da morte.” (pág. 306)
“Ainda gosto da simplicidade universal e complexa dos sentimentos das personagens. Gosto das palavras que dizem, tão bonitas, tão certas… Da música na voz deles.” (pág. 422)
SINOPSE:
Os dias de Violette Toussaint são marcados por confidências. Para aqueles que vão prestar homenagens aos entes queridos, a casa da zeladora do cemitério funciona também como um abrigo diante da perda, um lugar em que memórias, risadas e lágrimas se misturam a xícaras de café ou taças de vinho. Com a pequena equipe de coveiros e o padre da região, Violette forma uma família peculiar. Mas como ela chegou a esse mundo onde o trágico e o excêntrico se combinam?
Com quase cinquenta anos, a zeladora coleciona fantasmas — uma infância conturbada, um marido desaparecido e feridas ainda mais profundas —, mas encontra conforto entre os rituais e as flores de seu cemitério. Sua rotina é interrompida, no entanto, pela chegada de Julien Seul, um homem que insiste em deixar as cinzas da mãe no túmulo de um completo desconhecido. Logo fica claro que essa atitude estranha está ligada ao passado difícil de Violette, e esse encontro promete desenterrar sentimentos há muito esquecidos.