Lançamento: A inevitável fraqueza da carne – Wilson Gorj

Idianara Lira

Felino selvagem é metáfora para desejos reprimidos em novo livro de escritor paulista

Depois de uma década sem publicar, o escritor Wilson Gorj, que também é editor, está com um novo livro na praça. Trata-se do seu romance de estreia, “A inevitável fraqueza da carne” (Penalux). Tempos atrás, Gorj ficou conhecido pelos seus livros de microcontos, gênero pelo qual militou durante um bom tempo, tendo, inclusive, comandado um selo específico do gênero, o 3×4: microficções (2010 a 2012), que foi um dos primeiros selos a se focar exclusivamente na prosa minimalista.

Dessa vez, porém, o autor investe sua escrita numa narrativa de mais fôlego. “É um enredo relativamente simples”, relata o escritor à nossa entrevista, “mas que traz assuntos de interesse geral, como paixão, traição, conflitos familiares, entre outras abordagens humanas”.

A sinopse do romance nos dá a dimensão do que aborda o livro: Carlos é um contador que recebe uma inesperada herança do falecido pai, com quem não se relaciona desde a infância, em decorrência de uma traição que resultou no rompimento familiar. Essa herança é o ponto de virada na vida do personagem. Aos poucos, a chácara herdada vai se revelando um palco de tensões. A história, que é contada por um narrador pouco confiável, contempla temas candentes da condição humana: a morte; a solidão de não ter filhos; a traição; o incesto; os silêncios pessoais e os desdobramentos do passado na vida presente. Além de abordar a traição, a trama apresenta ainda, em menor medida, o tema da autoficção, explorando os limites entre sonho e realidade, desejos e lembranças, verdade e mentira.

 “Muitos me perguntam o papel da jaguatirica na história, já que ela ilustra a capa do romance”, conta o escritor. Ele explica: “É um animal-símbolo no meu enredo. Ela aparece em algumas noites no quintal da chácara, tentando roubar alguma ave do galinheiro protegido por telas. Carlos, o protagonista do romance, estabelece com ela uma certa ligação e simpatia. A jaguatirica representa na trama uma metáfora às nossas paixões reprimidas, que tentam invadir a nossa rotina e de alguma forma saquear algo do nosso tempo, de nossas relações, de nossa vida.”

Outro ponto que desperta curiosidade no livro do Gorj é o título, que lembra o de outro livro, a famosa obra do tcheco Milan Kundera. O próprio autor elucida essa referência: “O livro inicialmente chamava-se ‘A carne é fraca’. Mas então, ainda no processo de concluir a trama, veio-me à mente este ‘A inevitável fraqueza da carne’. O novo título me fisgou, mas logo aquela voz crítica que todo autor tem (ou deveria ter) buzinou o alerta: isso lembra o livro do Kundera, ‘A insustentável leveza do ser’. Inicialmente essa constatação foi um desalento, tanto que pensei em deixar esse título de lado por conta dessa fácil associação a outro já existente e conhecido. Mas não demorou muito para que a ideia se tornasse um estímulo, porque vi a possibilidade de transformar o pastiche do título numa referência explícita, irônica, uma espécie de homenagem ao autor. Em outras palavras: eu poderia usar essa associação ao Kundera a favor do livro. Além do mais, entre os dois títulos parecidos há um contraponto interessante: o livro do escritor tcheco trata de questões do ser, o espírito humano, abarca questões mais elevadas, sendo assim, do outro lado, o meu – com menos competência, obviamente – trata de questões da carne, um tema mais ao chão, sem muitas pretensões filosóficas. Em resumo, a referência ao Kundera foi um tempero a mais à minha história”, finaliza Gorj.

Como ocorre em histórias permeadas por erros e perdas, da leitura desse romance também podemos tirar alguma lição: a de que toda rotina está sujeita à interferência do inesperado. E o inesperado pode se apresentar de várias formas, seja por meio de uma herança, uma revista ou, quem sabe, um felino… Afinal, mudar nem sempre é uma escolha. Às vezes é um imperativo inevitável.

FONTE: Carlos Saldanha Mancur – Redator e jornalista (PORTAL DIVULGAÇÃO CULTURAL)

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Wilson Gorj é natural de Aparecida, SP. É escritor e editor pela Penalux. 

Possui participações literárias em antologias, jornais, revistas e sites.

Este romance de estreia é o seu quarto livro publicado.

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