Resenha: A Contrapartida – Uranio Bonoldi

Idianara Lira
 
Quando vi este livro no catálogo da Editora Valentina, prontamente fiquei curiosa para desvendar os mistérios criados pelo autor Uranio Bonoldi e percorrer sua narrativa pelas ruas de São Paulo.  O livro é um thriller repleto de suspense que logo em seus primeiros parágrafos, agarra os leitores apaixonados pelo gênero:

“Ano de 2016, início do outono, cidade de São Paulo, terreno urbano, fim de madrugada com chuva torrencial, o que torna ainda mais escuro o nascer do dia. Ao final de uma trilha, sob árvores altas e em meio a uma vegetação com raízes aéreas que cobrem o terreno lamacento, um homem está de costas. Ajoelhado, de punhos cerrados na lama, tenta se sustentar – treme. Ofegante, emite sons horríveis, como se quisesse expulsar sua mágoa, livrar-se de algo que dilacera seu peito. ” (pág. 15)

“O semblante está tenso e denota desespero. Ao se levantar, sente uma tontura violenta e procura se agarrar onde pode. Contudo sem perceber onde pisa, ele tropeça. Meus Deus! Pisei nos corpos. Que inferno!” (pág. 16)

 
A Contrapartida conta a história de Octávio Albuquerque Júnior, ou apenas Tavinho. Um menino que apesar de se esforçar muito, possui dificuldades de aprendizagem na escola e por este motivo, não consegue atingir o desenvolvimento almejado o que o deixa muito triste, uma vez que seu maior sonho é dar orgulho e também honrar a memória de seu pai que fora um grande professor e da mãe Cristina, uma mulher extremamente inteligente, gentil, bondosa e bem sucedida.
 
Cristina possui muita empatia pelas pessoas, característica que faz com que ela quando ainda era solteira e viajava pela Amazônia com o intuito de fazer pesquisas para a conclusão de sua monografia, ajudasse Iaúna, uma índia descendente da extinta tribo Moxiruna e que sobreviveu ao ataque de  garimpeiros. Assim, após conseguir aprovação de seus pais, Cristina leva Iaúna para sua casa com o intuito dela se tornar uma espécie de governanta, esta acaba encantando todos, com sua personalidade tranquila, respeitosa e dotada de grande capacidade de aprendizagem e adaptação a cultura dos brancos. 
 
Com o passar do tempo, Iaúna torna-se governanta de Cristina quando esta se casa e as duas possuem uma forte amizade, então quando Tavinho nasce a índia cuide dele como se fosse seu filho. Certo dia, Tavinho chega em casa da escola extremamente triste e conta para Iaúna que tinha muita dificuldade em aprender e que se sentia burro. A índia comovida com o sofrimento do menino e por ser muito muito grata a Cristina que muito a ajudara (até uma casa a mãe de Tavinho lhe dera) oferece ajuda ao menino.
 
Em sua tribo, Iaúna por ser filha do cacique, aprendera vários rituais importante da tribo, principalmente o preparo de um elixir que concedia aqueles que o ingerissem, astúcia e muita inteligência. Entretanto, como tudo tem uma contrapartida, os principais ingredientes deste elixir, eram adquiridos através da morte de outro ser humano.

” – Me assusta um pouco, mas eu disse que faria qualquer coisa pra ter inteligência. Qualquer coisa. Então, eu quero experimentar.  – Mesmo que isso signifique que alguém terá que morrer? Alguém com espírito maligno terá que morrer para termos o elixir. Homem ou mulher. A inteligência desse ser do mal deverá ser incorporada  ao cérebro de um ser do bem, no caso você. ” (pág. 78)

E assim, Tavinho no alto de seus poucos 13 anos e ansioso para dar orgulho a seus pais, aceita sem pestanejar esta violenta contrapartida exposta por Iaúna. Com o decorrer da narrativa, vemos que Tavinho se torna um estudante e depois médico, muito bem sucedido e extremamente inteligente, tudo isso graças ao elixir de Iaúna, que ele ingeria de tempos em tempos, sem se preocupar com quem estaria morrendo para que ele alcançasse e pudesse manter, o sucesso almejado.
 

Então, conforme mais se tornando um adulto, Tavinho começa a mudar ao poucos seus caráter: se torna egoísta, dotado de um ego elevado e implacável na busca pelo sucesso, mas claro coisas ruins, não trazem apenas o bem e assim, um dia as decisões que Tavinho tomara anos atrás, lhe trouxeram consequências terríveis e ele teria que pagar o preço por tudo que fizera…

Neste momento vocês devem estar pensando: “nossa mas ela já contou todo o livro?!”Ao que eu lhes respondo: não mesmo! kkkkk! A obra acompanha o personagem principal de seus 13 aos 40 anos e, posso lhes garantir que é uma narrativa repleta de vários acontecimentos violentos e cruéis e reviravoltas inesperadas, capazes de prender os leitores curiosos e os fãs de um bom suspense.
 
Adorei a divisão dos capítulos, é bem distribuída e faz a leitura ser dinâmica. O enredo gira em torno basicamente de Tavinho, Iaúna e Cristina, apresentando fatos da vida do passado e presente e da personalidade destas personagens. A escrita de Uranio Bonoldi é clara, objetiva e espontânea. Em alguns momentos ele utiliza gírias que compõem e ilustram o universo de alguma personagem, mas sem decair a qualidade do texto. Outra característica que muito me agradou, foram as curiosidades acerca da cultura dos Moxiruna, tribo da qual Iaúna era proveniente, é possível notar que o autor utilizou um ótimo assunto que é a tomada de decisão, para criar uma história que faz o leitor refletir sobre as decisões que já tomou ou ainda tomará em sua vida.

Uranio Bonoldi Uranio Bonoldi atua como conferencista e consultor em gestão, governança corporativa e planejamento estratégico, dando suporte a empresas que desejam crescer de forma estruturada.

Ministra, também, palestras e workshops in company e em eventos acerca de temas relevantes e atuais de gestão, estratégia e liderança.

É escritor e, em seu livro, dirigido ao público jovem adulto, aborda assuntos de grande importância para o desenvolvimento de pessoas melhores, tanto na vida pessoal, como no ambiente corporativo e na sociedade.

6 Comments

  • Laura Baticioto

    14 de julho de 2020 at 13:23

    Oi, Indianara!
    Fiquei chocada com o rumo que a narrativa tomou! No início da resenha não imaginava que o livro ia ser tão profundo e até mesmo sombrio assim :O
    É uma leitura bem diferente do que costumo fazer, mas achei interessante!

    Estante Bibliográfica

  • Teresa Isabel Silva

    14 de julho de 2020 at 15:09

    Vou levar a sugestão literária!

    Bjxxx
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  • Monique Larentis

    14 de julho de 2020 at 20:23

    Nossa, dos 13 aos 40 anos se passa no livro? Interessante. Parece ser uma aventura divertida. Esse negócio do elixir me deixou curiosa.

    http://www.vivendosentimentos.com.br

  • Idianara Lira

    15 de julho de 2020 at 12:18

    Olá Laura! Nossa menina realmente foi uma leitura surpreendente, com uma crescente de suspense muito bom! Abraços!

  • Idianara Lira

    15 de julho de 2020 at 12:21

    Olá Teresa! Fico feliz que gostou da dica! 🙂 Abraços!

  • Idianara Lira

    15 de julho de 2020 at 12:25

    Olá Monique! A narrativa foca bastante na adolescência de Tavinho até ele concluir a escola e começar a faculdade de Medicina. Depois temos um salto temporal que mostra o adulto que ele se tornou e as consequências da decisão que tomou quando ainda era um adolescente. As passagens do livro que falam sobre o rito indígena e o elixir, são assustadoras e impressionantes. Abraços!

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