Resenha: A Parca – Nada termina de verdade (Kildary Costa)

Idianara Lira

“Meu irmão já havia me explicado certa vez que este mundo é apenas uma pequena peça de um intrincado e grandioso sistema de mundos, eras e dimensões, e que passamos um tempo nele por um motivo ou outro, mas a vida de verdade é dentro desse sistema, muito além do que podemos ver. ” (pág. 83)

Conheci o livro A Parca do autor Kildary Costa através da LC Agência de Comunicação em mais uma de suas ótimas leituras coletivas. Minha atenção foi atraída assim que li a sinopse e vi que o assunto girava em torno da perda de entes queridos e a possível comunicação com estes:

SINOPSE:  Perséfone não tem nem vinte anos, mas já viveu uma grande tragédia. Ou melhor, duas. Desnorteada com as mortes repentinas de sua irmã e seu pai, junta-se ao seu irmão Dionísio e seus amigos, que especulam sobre o que existe no pós-morte, e começa a desvendar os segredos das comunicações com as almas dos falecidos. Em meio a lembranças, sonhos e redescobertas, Perséfone inicia uma jornada de autoconhecimento à medida que adentra um novo mundo, estranhamente familiar, onde nossas histórias são criadas, percebendo que os destinos de todos os que conhece estão entrelaçados, e que o próprio mundo pode estar em risco. Afinal, quem traçou esses caminhos?

Apesar de meu interesse pela obra, confesso que até mais ou menos as 100 primeiras páginas a leitura não tinha me fisgado, tive dificuldade para acompanhar o ritmo não linear e as divagações da protagonista Perséfone que mesclando sonhos, passado e presente, tenta junto seu irmão Dionísio, compreender e lidar com o universo pós-morte. Somos conduzidos através das histórias de personagens diferentes (a maioria amigos de Perséfone), e as quais possuem ligações importantes e se entrelaçam ao longo da obra.

Passadas as adversidades iniciais, persisti na leitura e ao final fui agraciada com uma narrativa que apesar de não ser fluída, é muito bem escrita e repleta de referências do universo artístico (pintores como Van Gogh e Monet, além de citações mitológicas) culminando em um livro que se enquadra no Realismo Fantástico e que leva o leitor de forma respeitosa, para a eterna discussão entre religião versus ciência.

 

Segundo a Wikipédia, as parcas, na mitologia romana (moiras na mitologia grega), eram divindades que controlavam o destino dos mortais e determinam o curso da vida humana, decidindo questões como vida e morte.

Neste momento acho interessante mencionar que venho de uma família em sua maioria católica e apesar de ter sido batizada nesta religião, não sou praticante de nenhuma, por não ser uma pessoa de fé. Entretanto, acredito que existem vários mistérios que nós seres humanos desconhecemos e simpatizo bastante com a ciência. Refletindo agora, posso afirmar que sou uma pessoa agnóstica, que é aquela que não acredita e nem nega a existência de Deus.

Mencionei tudo isso, para dizer que em nenhum momento da leitura, me senti pressionada a acreditar ou desacreditar em algo, esta não é a intenção do autor, acredito que ele busca trazer certo conforto para todos aqueles que sofrem com a morte de pessoas queridas. Kildary Costa de forma bastante sutil e cortês, utiliza seus personagens para abordar o tema da vida, morte e pós morte, de forma bastante elaborada causando no leitor uma forte reflexão sobre o que a morte e o luto representam em nossas vidas e os sentimentos que elas nos trazem. Enfim, adorei conhecer este livro e parabenizo o autor por criar uma obra tão singular.

“Um velório é uma celebração de vidas, da vida do lembrado, mas também dos que dele se lembram; da vida que se foi e da que ainda poderia ter sido; de todos os segundos de cada um de nós, vivos e mortos, que pertencem à morte porque já estão no passado. E dos outros infinitos segundos que ainda não pertencem a nada, porque os vivos não os viveram ainda, ou que nunca pertence tão, pois os mortos não os viverão mais.”(pág. 28) 

KILDARY COSTA nasceu em Fortaleza em 1977, e formou-se em direito pela universidade federal do Ceará.

Servidor público, morou alguns anos no Amazonas, e depois no Piauí. Leitor ávido desde criança, decidiu escrever seu primeiro romance, “A Parca”, a partir de experiências pessoais.

Atualmente reside em Teresina, com esposa e filho.

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