Resenha: Admirável Clarice – Ana Claudia Soriano

Existem livros que nos prendem desde a primeira página e outros que nos cativam gradualmente por meio de sutilezas, com certas doses de carinho e delicadezas. A narrativa é construída singelamente e sem pressa. Foi assim, que Ana Claudia Soriano, em seu livro Admirável Clarice, me conquistou. Com uma escrita sem rodeios, simples e objetiva, ela se revelou uma escritora promissora e com sensibilidade para explorar o universo literário.

SINOPSE:
Clarice perdeu a mãe aos três anos. A locomotiva que passava todos os dias carregando cimento era o seu despertador todas as manhãs, quando ela, ainda tão pequena, precisava se arrumar para trabalhar entre as lavouras de laranja em Itaboraí, no estado do Rio de Janeiro. E era lá, por entre o cheiro cítrico, misturado à amarelidão das laranjas, que Clarice cresceu tendo de lidar com seus sentimentos, a perda de sua mãe, a tristeza que causava a ausência de seu pai e uma vontade grande de estudar.

Foi lá, no amarelo cítrico dos pomares de laranja, que Clarice aprendeu a ser madura, a ser resiliente, e buscar, por si só, a felicidade que insistia em persegui-la.

Foi num sábado ensolarado que me estiquei na rede para ler Admirável Clarice e enquanto os raios do sol aqueciam minha pele, a leitura fazia o mesmo, mas em meu coração. Não quero parecer demasiadamente sentimental, porém, foi impossível não me sentir assim ao terminar a comovente história de Clarice e descobrir, ao final, que ela é baseada em uma história real: a avó da autora.

Inicialmente acompanhamos a infância humilde de Clarice, desde suas brincadeiras em meio aos pomares de laranja, até sua rotina escolar, permeada pelo amor e o carinho de sua avó e tia, além da presença discreta, mas importante do pai. Muito curiosa, alegre, atenta e grata por tudo que a cerca, inclusive o amor de sua família, ela me lembrou a querida órfã Anne de Green Gables da autora L. M. Montgomery, ou Pollyanna de Eleanor H. Porter.

“Quando criança, durante muito tempo, esse era o ciclo que se repetia na minha vida. Acordava, corria para a janela, admirava a Maria-Fumaça. Ia para as lavouras, corria pomares afora, colhia laranjas, cheirava a casca das laranjas frescas ou secas que minha avó guardava para chá ou, ainda, degustava a fruta tirada do pé. Era lindo ver os laranjais! Enormes, maiores do que minha vista conseguia alcançar.” (trecho do livro)

Com o decorrer da narrativa os anos se passam até a vida adulta de Clarice e assim como o título, é impossível não admirá-la, pois, apesar da trajetória permeada por perdas, situações tristes e dificuldades, ela mantém seu otimismo e a esperança de uma vida melhor independente de todas as adversidades que lhe ocorrem. Decidida e forte, ela é um exemplo de mulher que nunca desistiu de ser feliz e de estender esse sentimento para todos a sua volta.

“Mas hoje, noventa e cinco anos depois, em mais uma aurora, vejo que o ontem doeu, mas, entre as certeza e as dúvidas, valeu a pena.” (trecho do livro)