Resenha: Domínio de Sangue – Peculiar Editora

Idianara Lira

Domínio de Sangue nos mostra, através de contos e poemas de tirar o fôlego, toda a grandeza do universo dos vampiros. Esses macabros seres do submundo têm permanecido há séculos na literatura, cinema, música e artes plásticas. Mostrando assim que, ao menos em nossos sonhos e pesadelos, eles são imortais.” (pág. 8 – prefácio de Indy Sales – Organizadora)

Lançada em 2022 pela Peculiar Editora, a antologia Domínio de Sangue é um prato cheio para quem é fã destas criaturas que permeiam não apenas a literatura, mas também o universo áudio visual através de filmes e séries que apresentam os mais diversos tipos de vampiros e os quais, muitas vezes se distanciam do clássico personagem do famoso romance Drácula de Bram Stocker. Esta diversidade está presente na antologia e é a responsável em nos prender do início ao fim.

SINOPSE:
Das trevas emergem os filhos da noite.
Sedentos de essência vital, anseiam o sangue que corre na sua jugular.
Os vampiros estão entre nós…
A espreita, escondidos nas trevas, ocultos, frios como mármore, imortais.
Descubra como se deu a transformação e o despertar dessas misteriosas criaturas, que espreitam à noite em busca dos mortais.

Frequentemente, os vampiros, apesar de serem criaturas maléficas, são descritos como belos, elegantes e sedutores, tais adjetivos também podem ser utilizados para apresentar esta antologia, que mantém a qualidade do acabamento gráfico e impressão, que encontramos em todos os outros livros do catálogo da Peculiar Editora. Menciono isso, pois como leitora notei que nos últimos meses, algumas editoras (talvez pelo alto custo de gráfica) passaram a imprimir suas obras em um papel de qualidade inferior, que infelizmente rasgam facilmente ao descolarmos um post-it ou virarmos as páginas. 

Outra característica que apreciei muito, principalmente por ser algo inesperado em uma antologia de contos, são os lindos e assustadores sonetos escritos pela organizadora Indy Sales. Ela nos presenteia com versos muito bem estruturados, dignos de uma escritora que possui grande talento lírico focado em temáticas sombrias. 

Valsa Noturna  
“Ouço nas sombras um grito,
Espectros malignos valsam.
Aguarda-te uma sina maldita,
Os morcegos um sinistro voo alçam.

Grita, a vítima aflita, desesperada,
Ao sentir suas veias serem drenadas.
Anoitecer de pavor, gritos de horror,
Ela se contorce no chão, sentindo dor.

Agora, silêncio, está consumado,
O ataque violento e cheio de ardor,
E o sangue completamente sugado.

Findou-se todo grito e clamor,
E o algoz desdenha, saciado;
Do sangue ainda sente o sabor.”
(Indy Sales – pág. 23)

Referente aos contos, a criatividade e a diversidade narrativa se faz presente em toda a obra, comprovando que o tema proposto está longe de ser considerado algo “batido” ou clichê, mas sim bastante apreciado por escritores e leitores, contemplando vampiros com atributos que vão do clássico ao contemporâneo. A seguir compartilho quais foram meus contos preferidos:

Maldição Cigana – Bruno M. Garcia: uma guerra sanguinária entre sérvios e ciganos em 1733, é o pano de fundo para a morte e a traição repleta de violência entre dois irmãos. 

“Os ciganos infernais me libertam. Escuto-os enquanto cavam brutalmente a grama, retornando para a terra fria. Assim que acostumo a visão, perscruto os arredores. Atrás de mim, nas profundezas de uma cova abismal, jaz um velho caixão de madeira”. (pág. 14)

A Espera – Gisele  Wommer: Arthur e Celly vivem um amor tão sincero, que nem a passagem dos anos, uma doença mortal e o vampirismo conseguiram destruir. 

“Sofreu conforme o tempo chegava, com a solidão a qual fez questão de se aconchegar, desde que Arthur sumira. As pessoas diziam que ele havia lhe deixado, que ele simplesmente fora embora, mas ela sempre soube que algo acontecera a seu amado. Arthur jamais a deixaria, nessa certeza, ela ficou a esperar que ele voltasse. Por dias, semanas, anos…” (pág. 50) 

O Vagão – Leno Lucas: em 1930, um ex-combatente de guerra embarca em um trem com destino a fazenda de sua família. Dentro do vagão, enquanto descansa, ele observa os outros passageiros até que acontecimentos estranhos ocorrem e mudam sua vida para sempre.

“Resolvi deixar o trem, senti um comichão pelo estômago e então sai. Lá fora, tive uma visão dantesca: parecia que eu estava percorrendo um caminho infinito na escuridão, a porta do outro vagão parecia tão distante quanto uma estrela, e a entrada atrás de mim permanecia como se eu não tivesse andado nem um centímetro.” (pág. 67) 

O Renascer – Maria S. Rocha: ao longo das décadas os vampiros evoluíram em vários aspectos e se multiplicaram descontroladamente. Por este motivo o governo criou o programa hunter (soldados treinados para exterminá-los). O ano é 2070, Sasha Conan é uma hunter habilidosa, mas após o diagnóstico de uma grave doença, sua vida fugirá totalmente do eixo.

“Percebo uma movimentação estranha na rua vizinha, pulo de prédio em prédio, até cair sobre o telhado de uma das maiores boates do bairro. Penetro o interior do estabelecimento, aponto minha besta para todos os lados. Sinto cheiro de sangue. Encontro uma dezena de corpos sem vida amontoados no chão.” (pág. 91-92)

Comunhão – R. A. Tsuchiya – uma senhora foge de uma vampira que está em seu encalço, entretanto a criatura a persegue, após saber que a humana a procurava. Ao se verem frente a frente, a senhora sofre com o desespero de não se a vampira acabará ou aumentará o sofrimento que a atinge.

“Deixe-me mostrar como o mundo é além do véu que a humanidade criou para si e que os impede de ver e de compreender a realidade. Verás coisas que sua mente limitada não consegue imaginar. Poderá interagir com criaturas fantásticas que transitam entre os mundos! Sentirá a Terra pulsando e, então, entenderá que é apenas um fragmento deste grande organismo.” (pág. 129)

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