Resenha: Kim Jiyoung, nascida em 1982 – Cho Nam – Joo
“Desde que se tornara dona de casa em tempo integral, ela percebia com frequência que havia uma atitude polarizada no que dizia respeito ao trabalho doméstico. Alguns o menosprezavam, considerando-o ‘vadiar em casa’, enquanto outros o glorificavam, considerando-o ‘trabalho que sustenta a vida’, mas ninguém tentava calcular seu valor monetário.” (pág. 146)
SINOPSE:
Em um pequeno apartamento nos arredores da frenética Seul vive Kim Jiyoung. Uma millennial comum, Jiyoung largou seu emprego em uma agência de marketing para cuidar da filha recém-nascida em tempo integral — como se espera de tantas mulheres coreanas. Mas, em pouco tempo, ela começa a apresentar sintomas estranhos, que preocupam o marido e os sogros: Jiyoung personifica vozes de outras mulheres conhecidas — vivas e mortas. A estranheza de seu comportamento cresce na mesma proporção que a frustração do marido, que acaba aconselhando a esposa a se consultar com um psiquiatra.
Toda a sua trajetória é, então, contada ao médico. Nascida em 1982 e com o nome mais comum entre as meninas coreanas, Kim Jiyoung rapidamente se dá conta de como é desfavorecida frente ao irmão mimado. Seu comportamento sempre é vigiado e cobrado pelos homens ao seu redor: desde os professores do ensino fundamental, que impõem uniformes rígidos às meninas, até os colegas de trabalho, que instalam uma câmera escondida no banheiro feminino para postar fotos íntimas das mulheres em sites pornográficos. Aos olhos do pai, é culpa de Jiyoung que os homens a assediem; aos olhos do marido, é dever dela abandonar a carreira para cuidar da casa e da filha.
A vida dolorosamente comum de Kim Jiyoung vai contra os avanços da Coreia do Sul, uma vez que o país abandona as políticas de controle de natalidade e “planejamento familiar” — que privilegiava o nascimento de meninos — e aprova uma nova legislação contra a discriminação de gênero. Diante de tudo isso, será que seu psiquiatra pode curá-la ou sequer descobrir o que realmente a aflige? Best-seller internacional, Kim Jiyoung, nascida em 1982 é uma obra poderosa e contemporânea que não só atinge o âmago da individualidade feminina, como também questiona o papel da mulher em âmbito universal.
“Kim Jiyoung, nascida em 1982” é um livro curtinho, mas que que aborda um tema muito importante: os dramas enfrentados pelas mulheres coreanas em meio a uma sociedade extremamente machista e repleta de desigualdade de gênero. Entretanto, sabemos que as situações descritas no livro, ocorrem não apenas na Coréia, elas são universais e infelizmente se perpetuam desde sempre.
A narrativa é de fácil compreensão e escrita com uma linguagem direta, que por vezes parece ser mais um relato verídico do que uma ficção. Talvez isto se deva ao fato, de que a autora Cho Nam-Joo, se baseou na própria experiência como mulher que largou o emprego para ser dona de casa após o nascimento do filho. Outros aspectos interessantes, são as várias notas de rodapé com dados estatísticos e jornalísticos sobre a discriminação de gênero e disparidade salarial na Coréia, fatos que volto a repetir: infelizmente ocorrem em todo o mundo.
“Koh Boonsoon não se ressentia do marido por não ter a capacidade ou a vontade de sustentar a família. Ela acreditava piamente que ele era um marido decente por não se deitar com outras mulheres e não bater nela.” (pág. 22)
Enfim, foi uma leitura que me deixou um sentimento profundo de tristeza e raiva, pois, como mulher já vivi e presenciei várias situações que são descritas no livro e, apesar da luta pela igualdade de gênero e a busca constante por uma sociedade mais justa e focada na empatia e no respeito com o próximo, as vezes tenho a sensação de que um mudo assim é uma utopia que talvez eu não viva o suficiente para presenciar…
CHO NAN-JOO nasceu em Seul, Coreia do Sul, e é ex-roteirista de televisão. Para escrever este livro, baseou-se na própria experiência como uma mulher que largou o emprego para se tornar dona de casa depois do nascimento do filho. Kim Jiyoung, nascida em 1982, seu terceiro romance, teve grande impacto nos debates sobre desigualdade e discriminação de gênero no país. O livro foi traduzido para 18 idiomas e vendeu mais de 1 milhão de exemplares no mundo.