Resenha: O Sabá das Bruxas – Peculiar Editora
“E nas sombras não mais nos esconderemos,
É hora da face oculta e demoníaca se revelar.
Tão perto do caos nunca estivemos,
É chegada a hora das bruxas… Que venha o Sabá!”
(pg. 156 – trecho do soneto “Que venha o Sabá”- Indy Sales)
Lançada em 2022 pela Peculiar Editora, a antologia O Sabá das Bruxas, organizada por Ellen Reys, (autora nacional famosa por se dedicar a escrita de terror e fantasia sombria) é dentre todas as outras obras de terror lançadas pela editora, a mais violenta e tenebrosa que li até o momento, pois os autores não pouparam sangue e maldade em suas narrativas.
Entretanto, tais perversidades não são gratuitas, pois as personagens precisam praticá-las para impressionar a bruxa mais maligna de todos os tempos: Arabelle Whisper. Ela convocara todos os bruxos e bruxas do mundo para um sabá na lendária floresta de Hidden Forest (localizada ficcionalmente no coração da Amazônia), visando escolher apenas os que foram capazes dos atos mais cruéis, para serem integrantes de seu coven.
SINOPSE:
Há anos elas vivem nas sombras.
Seus rituais sendo feito as escondidas. Sua magia sendo tratada como escárnio.
Mas isto está para acabar.
Uma notícia se espalhou entre delas. O tempo de viver na encolha se encerrou.
Um evento se aproxima, mas nem todas serão dignas.
Agora terão que provar o seu valor.
O maior Sabá das Bruxas está chegando.
Se separadas podem espalhar o mal, causando tragédias por onde passam…
Imaginem juntas.
A maldade pura e simples permeia todos os contos de O Sabá das Bruxas, característica que pode causar certo desconforto e chocar os leitores mais suscetíveis emocionalmente, afinal, muitas as ações das personagens são extremamente inescrupulosas e vão de encontro aos princípios de qualquer pessoa que tenha o mínimo de empatia humana.
“Derreteu uma cera de tonalidade rubra, deixando-a preencher o estreito vão entre a cortiça e a borda vítrea, formando uma espécie de selo, um lacre sagrado para o corpo que ali jazia, transportado de seu mundo líquido e quente, na proteção do ventre de uma mulher em luto, para um mundo novo, líquido e frio, no interior de um pote, sobre a prateleira, num quarto escuro, ao lado de outros irmãos e irmãs, alguns inteiros, outros tantos dissecados, desmembrados, disformes. (pág. 10 – E as bruxas todas devem morrer – Lara Märchen)
A antologia é bem construída e exige uma leitura atenciosa, afinal a organizadora Ellen Reys em seu conto O Coven de Arabelle reúne os personagens dos contos apresentados anteriormente no livro para o grande climax: o momento do sabá e a escolha dos seguidores de Arabellle Whisper. Um livro que provavelmente agradará bastante os leitores que curtem terror! A seguir compartilho quais foram os contos que mais apreciei:
Chamas da destruição – Driana Campos
Chandra é uma garçonete que esconde por trás de seu rosto angelical, o fato de ser uma grande bruxa que sonha em fazer parte do séquito de Arabelle Whisper. Quando a oportunidade finalmente aparece, ela atrai o jovem Daiel que enfeitiçado nem imagina que destino cruel o aguarda.
Partidas – Juliana Oliveira
A interiorana cidade de Partidas, possuía uma peculiaridade intrigante: há 40 anos todas as noites um forte frio (incomum ao clima da região) castiga seus moradores, entretanto, o que eles não sabem, é que tal fato coincidentemente começou na mesma noite em que uma jovem misteriosa (e bruxa) desembarcou na estação de trem da cidade.
Eu sempre estive só – Ellen Reys
Um centro hospitalar abriga duas bruxas escondidas sob o jaleco de médica e enfermeira. Ambas anseiam, profundamente, alcançar um lugar dentro do séquito de Arabelle Whisper e para isso não mediriam esforços.
“Havia vislumbrado em minha visão o fogo, o desespero, a dor, o arrebatamento, e agora eu compreendia, essa seria a minha oferenda à Rainha, a essência pura de inocentes me alimentaria e me tornaria digna… (pág. 56 – Ellen Reys)
Profano – Gabrielle Bellin De Nicolai
Halina é uma curandeira que faz de tudo para não atrair a atenção dos moradores de seu vilarejo, afinal ela não quer que descubram a verdade: ela é uma bruxa. Porém, após receber o chamado de Arabelle Whisper, ela decide corromper uma alma inocente para ser digna de participar do grande sabá.
Invocação – Juliano Furlanetto
Natalia tenta escapar de um massacre em sua escola. Entretanto, será quase impossível se esconder de sua colega Agatha, ou devo dizer Agnes. Enquanto a carnificina toma proporções terríveis, Agnes fará o que for preciso para conseguir a aprovação de Arabelle Whisper em seu sabá.
“O ser humano está fadado ao mal, basta plantar uma pequena semente em seus pensamentos mais profundos, que cedo ou tarde, todos deixam a raiva que está guardada vir ã tona. A verdadeira natureza humana se mostra, a real essência surge neste caos permeando a realidade e mostrando a verdadeira face de cada um. (pg. 100 – Juliano Furlanetto)
Queimem – Rick Bzr
No século XIX, uma multidão enfurecida acusa e condena Nancy por crimes de bruxaria. Sua filha Laisy, protegida sob os cuidados de uma vizinha, assiste a tudo com muita atenção. A violência naquele momento é tão grande, que a multidão não enxerga onde está o verdadeiro mal personificado entre eles, agindo na espreita com o intuito de conseguir a futura aprovação de Arabelle Whisper.
“O corpo de Nancy sentia o calor se aproximando do centro da pilha. De dentro das chamas o calor a sufocava, bolhas se formavam por toda sua pele e ela sentia que iria explodir a qualquer momento. (pg. 111 – Rick Bzr)