Resenha: O Silêncio dos Livros – Fausto Luciano Panicacci
“Há várias camadas de leitura, e um livro pode convocar-nos à reflexão, confrontar-nos, deleitar-nos.” (pg. 26)
Eis um livro que realmente me causou muitas reflexões e resultou em uma longa resenha. Toda leitura é capaz de fazer com que mergulhemos em outros universos e em inúmeros sentimentos, porém, O Silêncio dos Livros do autor Fausto Luciano Panicacci, é uma obra genuína, impactante e que homenageia a essência e o poder transformador dos livros.
Numa época em que os livros são proibidos, o misterioso Santiago Pena acaba de chegar a Portugal, onde conhecerá Alice, menina desprezada pelos pais. O encontro de um antigo caderno trará questões intrigantes. Que relação haveria entre um jovem acusado de crime que alega não ter cometido, suntuosos projetos arquitetônicos e a descoberta de uma biblioteca abandonada? Por qual razão alguém usaria o lema festina lente ( “apressa-te lentamente”)? E por que o estrangeiro Santiago parece despertar nos familiares de Alice perigosos anseios?
A obra reflete um trabalho de profunda dedicação e qualidade de conteúdo. É notável através das inúmeras referências literárias e da linguagem em vários momentos rebuscada (mas sem ser enfadonha), a erudição que acompanha o autor e a qual, ele fez transbordar em sua obra.
“… para ela , tudo havia de desaguar da Arte, pois tudo o que morre e renasce na Arte, vive para sempre.” (pg. 255)
O acabamento gráfico também é belíssimo: imagem de capa, diagramação, fontes, tipo e cor do papel, tudo muito bem elaborado e de encher os olhos.
Outro ponto que impressiona bastante, e são extremamente bem construídos, são os prefácios. Um foi escrito por Beatriz Virgínia Camarinha Castilho Pinto (Mestre em Linguística) e o outro por Maria José Gargantini Moreira da Silva (Especialista em Língua Portuguesa e em Produção Textual) e além de persuadirem a leitura da obra, não tecem comentários presunçosos e inverídicos acerca desta. Para mim, eles foram responsáveis em atrair o leitor definitivamente, para o universo do livro e suas personagens.
“Lembrou-se de quando o recebeu da avó como um grande segredo, dos sustos, dos risos, as letras dando as mãos para formar palavras e o mundo.” (pg. 15)
“… essa é a minha leitura. Consegues entender a magia disso? O que EU posso extrair de universal de uma história, e como essa história fala aos meus sentidos, às minhas angustias, aos meus desejos; enfim, de que forma se comunica com MINHA vida?” (pg. 98)
“… os livros: além do que revelam já a superfície, é possível apreciá-los pelo que são, por seu estilo, ou seja, como obras de arte; pode-se também penetrar naquele recônditos, que no fazem refletir sobre nossas vidas, e através das personagens conseguimos observar o mundo com outros olhos, saboreando vidas que não são as nossas e, assim, melhor entender os que nos cercam.” (pg.99)
Fausto Luciano Panicacci é Doutor em Ciências Jurídicas pela Universidade do Minho (Portugal). Formado em Direito (Largo São Francisco, USP), estudou Fotografia, História do Cinema e História da Arte. Além de O silêncio dos livros (romance), é autor de Naufrágios (coletânea de contos e poemas), e de obra jurídica. Promotor de Justiça e escritor, foi professor de pós-graduação no GVLaw da FGV/SP. Integra os grupos literários O que restou e Library.