Resenha: Quarto – Emma Donoghue

Idianara Lira
 
Livro: Quarto
Título original: Room
Autora: Emma Donoghue
N. ° páginas: 349
Editora: Verus
 
Como apaixonada por livros, sempre procuro primeiro ler a obra literária para depois assistir sua adaptação cinematográfica, entretanto confesso que meu contato inicial com a história do livro Quarto, ocorreu através do filme O Quarto de Jack e só depois descobri que ele era baseado em um livro. Foi por acaso que vi o trailer e logo me encantei com o relacionamento de Jack, um sonhador e curioso menino que acabou de completar 5 anos de idade e sua mãe Joy, os quais vivem confinados em um quarto de 10 metros quadrados.


Enquanto que para Joy o quarto é seu cativeiro ao longo de 7 anos (ela fora sequestrada quando ainda era uma adolescente), para Jack ele é seu lar e o que existe além daquelas paredes é o espaço sideral, ou seja, o mundo como conhecemos não existe para ele. Esta foi a forma criativa e carinhosa inventada por sua mãe para fazer com que ele tivesse uma vida “normal” e não percebesse a terrível realidade na qual estavam inseridos.

Apesar de me encantar com o trailer, demorei algum tempo para finalmente ter coragem de assistir ao filme e em seguida ler o livro, pois temas como sequestro, cativeiro e estupro sempre me impactaram muito, acredito que pelo fato de eu ser mulher e ficar imaginando “e se fosse comigo o que eu faria? ” Ter essa empatia com o sofrimento do outro seja ele real ou fictício é bom por um lado, pois eu realmente entro naquele mundo abordado no livro e me coloco na pele de seus personagens, porém também é ruim, pois carrego uma carga emocional muito profunda durante a leitura e se for uma história muito triste e dramática, fico ansiosa e sofro muito com todos os personagens e acontecimentos. 

Entretanto para minha surpresa, o livro é narrado em primeira pessoa por Jack, o que faz com que o foco da história seja o relacionamento dele com sua mãe e sua visão fantasiosa sobre a vida e o mundo que os cerca. Assim a leitura não causa tanta angústia como eu imaginara que seria, pois não lemos sobre o sequestrador e suas atrocidades (chamado de Velho Nick, aliás pouco se fala sobre ele), mas sim sobre o que se passa na cabeça de Jack (através de uma linguagem bem coloquial e com o uso de termos muitas vezes infantis), o amor, as brigas, a cumplicidade, as brincadeiras e o carinho que envolvem mãe e filho. É emocionante ver que Jack apesar de ser fruto de um acontecimento hediondo, é extremamente amado por sua mãe e o responsável em resgatá-la para a vida:
 
 

“…Você andava toda triste até eu acontecer na sua barriga.– Falou e disse.A Mãe se inclinou pra fora da cama para acender o Abajur, que faz tudo clarear, zás.Fechei os olhos bem na hora, aí abri uma frestinha de um, depois os dois.– Eu chorava até não ter mais lágrimas – ela me contou. – Só fazia ficar deitada aqui, contando os segundos. ”

 
Foi impossível não me apaixonar por Jack, rir de suas brincadeiras, sofrer com seus anseios e chorar com seus temores. É admirável ver a evolução do personagem que por ser muito observador, percebe que a realidade não é bem como sua mãe o ensinara todos esses anos e começa a ficar contestador. Assim, Joy começa a lhe contar aos poucos, a existência de um mundo fora do quarto, o que faz com que ele fique bastante confuso e curioso:
 
“ O Lá Fora tem tudo. Agora toda vez que eu penso numa coisa, como esquis ou fogos de artifício ou ilhas ou elevadores ou ioiôs, tenho que lembrar que eles são reais, acontecem todos juntos de verdade no Lá Fora. Isso deixa minha cabeça cansada. E as pessoas também, bombeiros, professores, ladrões, bebês, santos, jogadores de futebol e gente de todo tipo, eles estão mesmo no Lá Fora. Mas eu não estou lá, eu e a Mãe, nós somos os únicos que não estão lá. Será que ainda somos reais? ”
 
Após enfrentarem algumas dificuldades além das frequentes, Joy decide que precisam fugir e para alcançar este objetivo será necessário além de muita sorte, que Jack seja extremamente corajoso para ajudá-la. Apesar de torcer o tempo todo para que eles conseguissem escapar de seu algoz, várias perguntas invadiram minha mente ao saber que tentariam fugir: conseguiria Jack após ser impactado pelo que veria no “Lá Fora”, lidar com o mundo real para concretizar o plano de fuga? Se conseguissem fugir, como seriam suas vidas após escaparem de anos de cativeiro e serem reinseridos em uma sociedade da qual estavam excluídos por tanto tempo? Joy seria capaz de superar todos os seus traumas vividos após um período tão longo de sequestro e estupros e seguir com sua vida?

Enfim, Quarto é um livro surpreendente não apenas pela forma da narrativa inovadora, ou como a autora conduz os acontecimentos, mas principalmente pela montanha russa de sentimentos que ele nos causa. A obra me abalou tanto que foi a primeira vez que senti uma profunda e imensa nostalgia ao dar adeus a um personagem infantil. Jack me despertou o amor materno, era como se ele fosse meu filho e eu o estivesse abandonando ao terminar a leitura do livro.
 

4 Comments

  • Valdemir Martins

    29 de junho de 2016 at 15:53

    Muito bom. Vi o trailer há algum tempo e só. Agora você conseguiu me despertar para o filme e principalmente para o livro. Vou ler, com certeza. Depois comento contigo.

  • Idianara Lira

    29 de junho de 2016 at 18:44

    Olá Sr. Valdemir! Obrigada por acompanhar o blog! É uma alegria saber que consegui deixá-lo curioso para ler o livro e ver o filme. Espero que goste! Um grande Abraço!

  • RÔMULO VIANA

    1 de julho de 2016 at 09:23

    OLá Idianara. Gostei muito do seu modo de escrita da resenha. Parece que vc está conversando de frente com o leitor. Parabéns, minha caríssima.

  • Idianara Lira

    2 de julho de 2016 at 23:29

    Olá Rômulo!Fico muito contente meu caro em saber que gostou da resenha e também muito feliz e grata por você sempre acompanhar o blog e opinar. Um grande abraço!!

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