Resenha: Terra de Almas Perdidas – Jefferson Sarmento

Idianara Lira

“Porque aqui dentro — ela bateu o dedo na têmpora — somos um balaio de contradições. Sabemos o que é errado baseado num conceito de moral e ética que a sociedade, a religião… que a cultura nos apresenta. Mas o bicho que somos tem instintos que deseja saciar. Fome e sede. Sexo, riqueza, bem-estar, vingança, raiva, paixão, teimosia. Tudo o que sentimos se converte em desejo por alguma coisa. E quanto mais confusos e perdidos estamos, mais os pensamentos se embriagam e nossa mente torna real o que produz.” (pág. 139)

Alguns autores recorrem ao auxílio de uma sinopse persuasiva ou aos comentários de outros escritores e especialistas para validar a qualidade de seu livro e despertar o interesse de potenciais leitores. Essas práticas representam estratégias muito eficazes de marketing que podem auxiliar um livro para o sucesso.

Entretanto, na contramão desse cenário, existem outros escritores (embora sejam raros), que trilham seu próprio caminho e deixam uma marca duradoura no universo literário. Eles empregam uma ferramenta inegável, uma força poderosa que o autor Jefferson Sarmento incorpora profundamente em sua escrita, e que é evidente nas mais de 500 páginas de seu novo livro, Terra de Almas Perdidas: o poder da arte das palavras. 

SINOPSE:
Jonas Almozart é um professor envolvido em uma tragédia que leva à morte de duas pessoas. Fugindo para escapar da própria culpa e da polícia, peregrinando de carona em carona, encontra abrigo com os artistas do circo Rendez-vous, na Enseada dos Novenos, uma estranha cidade dominada por personagens bizarros e perigosos, cada qual com sua dose de loucura e pecado. Intrigas e traições, assassinatos sanguinários, pactos sinistros vão se multiplicando ao redor do cético Almozart.

Ao se deparar com o moribundo Fausto, um velho que aparenta ter mais de cem de anos, Jonas se vê envolvido com a crença ao redor de uma antiga garrafa na qual vive uma entidade capaz de realizar todo e qualquer desejo de uma pessoa, dos mais simples aos mais fantásticos. Mas o preço… o preço cobrado pelo famaliá, o diabo da garrafa, é a alma eterna de quem se aventurar a tocá-la.

Enquanto se envolve com a intrigante Luiza, uma mulher que aparenta ter 30 anos, embora insista em ter vivido o dobro disso, Jonas mergulha na busca pela misteriosa garrafa, primeiro com curiosidade e, depois, para salvar a própria alma.

A lenda do “diabo na garrafa” é um tema fascinante e recorrente na cultura popular, não apenas aqui no Brasil. Ela se destaca por explorar dilemas morais e éticos universais, além de abordar questões relacionadas à ganância, à religião, ao desejo e a hipocrisia humana e às consequências de tentar negociar com forças sobrenaturais.

“As pessoas que vivem ao redor de nós nem sempre se contentam com a felicidade que lhes proporcionamos. Elas querem sempre mais. A inveja atinge seus louros, sejam eles construídos com o que de melhor você possui ou com um truque nefasto como o dos Bacetinos, é corrosiva com a mesma intensidade.”(trecho do livro)

Com isso em mente, é extremamente interessante acompanhar a trajetória do fugitivo Jonas Almozart, um professor cético com crenças totalmente fundamentadas na ciência e no raciocínio logico, que se vê gradualmente inserido em um universo que contradiz quase tudo em que ele acredita, rompendo o véu que separa a realidade da fantasia. Embora haja momentos de terror em Terra de Almas Perdidas, é o mistério e a fantasia que desempenham papéis primordiais para o desenrolar da trama e conduzem todos os personagens a um desfecho impressionante.

“Mais uma vez tive a impressão de que aqueles sentimentos eram… demais. Eram exagerados, mas entendi que eles todos haviam vivido coisas que eu não podia supor. E sentiam coisas entre si que eu ainda não era capaz de alcançar.”(trecho do livro)

A história é repleta de acontecimentos históricos intrigantes, passagens de tirar o fôlego, criaturas que parecem ter saído das páginas dos livros de H.P. Lovecraft, teorias que lembram a série “Dark” da Netflix, aventuras marítimas que rivalizam com as do Capitão Jack Sparrow de “Piratas do Caribe” da Disney, além de inúmeras referências cruzadas e elementos compartilhados com outras obras do autor que certamente agradarão os leitores que já apreciaram seus livros anteriores. Tudo isso torna Terra de Almas Perdidas uma inesquecível caixa de Pandora literária.

“Nosso livre arbítrio tem um escopo pequeno dentro das possibilidades que o mundo nos mostra.”(trecho do livro)

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JEFFERSON SARMENTO nasceu em Barra Mansa, no estado do Rio de Janeiro, em 1972. Em 2007, publicou Velhos Segredos de Morte e Pecados Sem Perdão. seu livro de estreia que foi recentemente reeditado pela Editora Tramatura. São do escritor os livros: Os ratos do Quarto ao Lado, Alice em Silêncio, Relicário da Maldade, Noites de Tempestade e A Casa das 100 Janelas, livro de estreia da editora Tramatura.

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