Resenha: Um lugar chamado Pambenil – Moacir Valle Jr.

Idianara Lira

 

“É a emoção que faz com que o hipocampo selecione um acontecimento para a memória permanente, esteja ela no coração, guardião metafórico da emoção, ou onde estiver.” (pág. 11)

Que leitor não gosta de ser surpreendido positivamente por um livro? Ser arrastado em um turbilhão de acontecimentos, criar várias teorias de como a narrativa irá ser concluída e no fim, cair em um abismo inesperado?! Se você é este tipo de leitor, com certeza irá apreciar a obra Um lugar chamado Pambenil do autor Moacir Valle Jr.

SINOPSE:
Xerxes tem um grave problema: seu cérebro não retém fatos recentes. Cinéfilo patológico, relaciona tudo o que vive a filmes e novelas de que se lembra. Por orientação médica, exercita a memória escrevendo sobre sua antiga paixão pelo futebol, detendo-se na trajetória da Ponte Preta em 1977. Enquanto isso, ele se envolve na busca de um boticário desaparecido num obscuro vilarejo perdido no tempo. Alternando pontos de vista narrativos, o ritmo e a linguagem pop amarram o leitor ao atormentado protagonista em sua alucinante viagem ao tempo, reescrevendo a mítica decisão de 1977 e revivendo filmes e novelas clássicas dos anos 70.

Conheci este livro através de mais uma ótima leitura coletiva, organizada pela LC Agência de Comunicação. Confesso que minha curiosidade pelo livro deu-se inicialmente após ler na sinopse as palavras “cinéfilo patológico e vilarejo perdido no tempo“, entretanto, descobri com o desenrolar da narrativa que o livro possui vários outros aspectos que o tornam extremamente extraordinário.

Apreciei bastante a escrita do autor , a qual é muito  eloquente e reflete o forte embasamento na cultura pop e no futebol (o livro é repleto de dicas valiosas destes assuntos), características que demonstram todo o conhecimento e cultura, que fazem parte da personalidade erudita do autor Moacir Valle Jr.

 

“Se não guardássemos o ‘eu profundo’, a convivência social seria impossível. Só tolos acham a sinceridade o máximo.” (pág. 112)

Outro tesouro presente na obra é o protagonista Xerxes. Dotado de uma personalidade que me cativou, ele é ansioso, inseguro, um pouco solitário, desequilibrado, sem papas na língua, inteligente e muito bem humorado. Ou seja, um personagem eletrizante que apesar do problema de memória, possui um fluxo de pensamentos aceleradíssimo que parece enxergar a realidade através de um  caleidoscópio e o tempo todo cria ligações entre as situações de seu cotidiano com filmes, novelas e músicas. Tais características me fizeram ter dificuldade de o acompanhar no começo da leitura e em vários momentos, quis pegar Xerxes pelo colarinho e lhe pedir para respirar um pouco ou ter calma! kkkkk

“Somos todos diferentes. Nossa personalidade é única, individual. Quem não conhece sua individualidade, dica à mercê das expectativas alheias e acaba, cedo ou tarde, em conflito com seu “eu” interior, sua “personalidade”. (pág, 196)

Ao fechar a última página do livro, passei alguns instantes em uma espécie de ressaca literária, afinal os variados  narradores e as situações que mesclavam passado, presente e futuro, constroem é um quebra-cabeça estimulante na mente do leitor. Enfim Um lugar chamado Pambenil  é um livro de alta qualidade narrativa e cultural e os leitores que lhe derem oportunidade não vão se arrepender.

Moacir Valle Jr, natural de Campinas, trabalhou muito tempo, inclusive em cargos de direção, numa empresa de grande porte (mais de cem mil empregados), o que lhe dá autoridade para falar das mazelas do mundo corporativo, um dos subtemas de “O Céu e o Brilho das Estrelas” (2021).

Dirigiu peças de teatro em São Paulo, Brasília e Florianópolis, dentre elas uma premiada adaptação do conto “O Alienista”, de Machado de Assis. Hoje mora em Brasília, é escritor, consultor em inovação e facilitador de Design Thinking.

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