Segunda Poética – Canção do Caleidoscópio – Lya Luft

Idianara Lira

Canção do Caleidoscópio

Quando achei que era tempo de sossego,
jorraste nas minhas veias
como um vento sagrado, um mar perdido.
Quando esperei que tudo tivesse sido
vivido, sofrido e chorado,
amadureceu esta fruta em meu deserto.

Quando pensei chegar no fim
de todos os corredores,
esta porta se abriu: sei que estás ali
a desenhar paisagens novas,
plantar árvores e deitar rios
onde eu imaginava haver sabedoria
e um copo apaziguado,
nada mais.

(Lya Luft – Secreta Mirada – 2.ª edição – 2015 – Editora Record)

LYA LUFT nasceu em 15 de setembro de 1938, em Santa Cruz do Sul, Rio Grande do Sul. Formou-se em letras anglo-germânicas e com mestrados em Literatura Brasileira e Linguística Aplicada. Autora de diversas grandes obras, recebeu em 2013, o Prêmio Machado de Assis, concedido pela Academia Brasileira de Letras, com a obra O Tigre na Sombra. Trabalhou desde os 20 anos como tradutora de alemão e inglês, e já converteu para o português obras de autores consagrados, como Virginia WoolfGünter GrassThomas Mann e Doris Lessing, além de ter recebido o prêmio União Latina de melhor tradução técnica e científica em 2001 pela tradução de Lete: Arte e crítica do esquecimento, de Harald Weinrich. Assinou de 2004 até 2021, a coluna Ponto de vista, da revista Veja. Faleceu em casa no dia 30 de dezembro de 2021.

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