Segunda Poética: Tempestade – Mauro Felippe
Tempestade
O vidro da janela tornou-se o elo
Entre a rua e o meu lar singelo
Vem chegando algo sobrenatural.
Em pouco tempo, a rua ficou alagada
Já não distingui o meio-fio da calçada
Pareceu um mundo em estado terminal.
Quando criança tudo era intacto, diferente
Não temia a natureza sempre imponente
Tudo escoava após o temporal.
Mas o ontem passou como o dilúvio de agora
Incrédulo e medroso, o indefeso chora
Sobrou lama e morte — findou o valor triunfal.
O radialista preparava-se para mais um plantão
Nem terminara de anunciar o anterior aluvião
Apenas assistiu ao troco da natureza ao humano letal.
(Felippe, Mauro. Humanos. São Paulo. Lura Editorial. 2023)
MAURO FELIPPE é advogado natural de Urussanga, no sul de Santa Catarina. Autor das coletâneas poéticas Nove, Humanos, Espectros e Ócio, preencheu inúmeros cadernos na infância e adolescência com textos e versos, dos simples aos elaborados. As temáticas de suas obras são extraídas de questões existenciais, filosóficas e psicológicas compreendidas em seu dia a dia, sendo que algumas advém dos longos anos de advocacia, atendendo a muitas espécies de conflitos e traumas. Por meio da literatura, pretende viver dignamente e deixar uma marca positiva no mundo, uma prova inequívoca de sua existência como autor.
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