Tocalivros recomenda obras que abordam a conscientização sobre a história dos negros no Brasil

Idianara Lira

No Brasil, 56% da população é negra. A fonte é do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). São mais de 120 milhões de pessoas. Um número que demonstra as raízes afro-culturais em cada centímetro do país, num dos territórios com mais descendência africana do mundo, e que, em brutal contradição, é um dos países que possui uma diferença social, econômica, educacional e política de proporção colossal.

A cada 23 minutos, uma pessoa de pele preta é assassinada no país. Racismo, exclusão racial, violência, intolerância, encarceramento e analfabetização, são práticas que já podem ser encaradas como política de estado contra a população negra, que constitui a maioria no Brasil. Todos os dados apontam uma sociedade que é excludente, favorecendo um grupo em detrimento de outro e atuando para a minoria de pele branca.

Assim, destaca-se a importância de datas como o dia 20 de novembro, chamada de Dia da Consciência Negra, a qual é crucial para promover a reflexão e sensibilização em todo o território nacional. O simbólico mês que marca a data, ganhou maior repercussão a partir da década de 70 pelos movimentos sociais pela igualdade racial, como o Movimento Negro Unificado, e que tem como pano de fundo homenagear a cultura ancestral dos povos africanos.

Apesar da luta por respeito e igualdade, apenas em 2011 foi instituído o dia 20 de novembro como o Dia Nacional da Consciência Negra — escolhido porque nessa mesma data, no ano de 1695, Zumbi dos Palmares, líder do Quilombo dos Palmares, maior quilombo do Brasil no período colonial, foi morto a mando de D. Pedro II.

É crucial ocupar o espaço chamado “Brasil”, onde a presença negra, representa a maioria da população e num país democrático é necessário o espaço para a justiça, a tolerância, o diálogo e a construção de alternativas e soluções. Essa ocupação visa criar um ambiente onde todos possam viver sem medo e livres da exposição à tanta violência. 

Em parceria com a TocaLivros, gostaria de compartilhar quatro recomendações de audiolivros disponíveis na plataforma, todos eles profundamente relacionados à Semana da Consciência Negra

Em Olhos d’água Conceição Evaristo ajusta o foco de seu interesse na população afro-brasileira abordando, sem meias palavras, a pobreza e a violência urbana que a acometem. Sem sentimentalismos, mas sempre incorporando a tessitura poética à ficção, seus contos apresentam uma significativa galeria de mulheres: Ana Davenga, a mendiga Duzu-Querença, Natalina, Luamanda, Cida, a menina Zaíta. Ou serão todas a mesma mulher, captada e recriada no caleidoscópio da literatura em variados instantâneos da vida?

As muitas mulheres negras presentes no romance Água de Barrela, de Eliana Alves Cruz encontram no lavar, passar, enxaguar e quarar das roupas das patroas e sinhás brancas um modo de sobrevivência em quase trezentos anos de história, desde o Brasil na época da colônia até o início do século XX. O título do romance remete a esse procedimento utilizado por essas mulheres negras de diferentes gerações e que garantiu o sustento e a existência de seus filhos e netos em situações de exploração, miséria e escravidão. 

O livro poético Negra Nua Crua, apresenta versos que retratam as inquietações, provocações, sensações, angústias e prazeres da vida pela ótica de uma mulher negra.

Mel Duarte é uma comunicadora com propósito, revolucionária do cotidiano que acredita nas palavras como ferramenta de transformação social. A escritora, poeta, slammer e produtora cultural nasceu na primavera de 1988 em São Paulo (SP) e atua com literatura desde 2006.

Comemorando os 16 anos de sua primeira edição, Negras, Mulheres e Mães é um retrato que permanece atual sobre as relações raciais no Brasil, baseadas sobre as questões de gênero e religiosidade. Através do resgate das memórias de Olga de Alaketu, saudosa Iyalorixá de Candomblé na Bahia e no Sudeste, a autora atravessa os grilhões do racismo e mostra que a capacidade da mulher negra em superar as dificuldades no curso da vida, dotada por sua herança cultural africana de potências de defesa e atuação social – ainda que às vezes em conflito de valores com a cultura européia, branca e cristã do Brasil.

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