Uma triste realidade – Idianara Lira Navarro
Neste momento me lembrei de um texto de Marcia Regina Zemella Luccas intitulado, “Sobre a história da língua de sinais e a educação dos surdos”, que menciona que desde os tempos mais remotos, os surdos são vitimados pelo forte preconceito existente em toda a sociedade mundial, a qual embasada em uma grande falta de conhecimento e compreensão desta deficiência física causou e ainda causa muitos danos a maioria destas pessoas existentes em nosso meio social.
Fazendo um breve retrospecto do que aprendi em minha graduação, lembro que na Grécia antiga, os surdos eram vistos como pessoas irracionais e primitivas, que não deveriam ter direito a educação, uma vez que por não possuírem a audição não conseguem aprender a falar e esta era considerada algo divino. Tal conceito, também, foi absorvido pelos romanos, que consideravam os surdos como seres imperfeitos e que não tinham o direito de pertencer à sociedade. Já no período feudal, lhes era negado o direito a herança da família e a qualquer privilégio da sociedade, uma vez que se acreditava que eles eram incapazes e débeis.
Entretanto, alguns religiosos como Santo Agostinho acreditavam que os surdos podiam se comunicar por meio de gestos, e a partir do século XVI, se iniciam as primeiras tentativas de “educar” os surdos, principalmente com a presença do monge Pedro Ponce de León, que dedicou grande parte da vida a ensinar os filhos surdos, de pessoas da aristocracia. Ele desenvolveu um alfabeto manual, que auxiliava os surdos a soletrar as palavras e há quem acredite que este alfabeto foi baseado nos gestos criados por monges, que enquanto estavam em voto de silêncio, utilizavam a comunicação gestual, para se comunicarem.
Ponce de León, assim como outros educadores deste período, usaram a língua gestual, apenas com o intuito de ensinar os surdos a aprenderem a língua oral. Em seguida, temos a presença do abade Charles Michel de L’Épeé, que em meados de 1750, fundou um abrigo que se tornou a primeira escola particular de surdos. Seu método, entretanto, era muito complexo, pois ensinava palavra por palavra e tentava obedecer à gramática, causando deste modo a falta de atenção por parte dos interlocutores (ouvintes) de um surdo.
Outro fato muito marcante na história da comunidade dos surdos ocorreu com o Congresso de Milão, em 1880, onde o comitê, que era unicamente constituído por ouvintes, tomou a absurda decisão de excluir a língua gestual do ensino de surdos, substituindo-a pelo oralismo, o qual é um método baseado na crença de que a língua oral é a única forma possível de comunicação e desenvolvimento cognitivo para os surdos e a língua de sinais deve ser evitada a todo custo porque atrapalha o desenvolvimento da oralização.
Em consequência disso, o oralismo foi a técnica preferida na educação dos surdos durante fins do século XIX e grande parte do século XX. Infelizmente e nossa contemporaneidade, ainda persiste o ensino inapropriado dos surdos, pois muitas instituições e pais ainda insistem em visar principalmente o aprendizado da oralização, sendo que o surdo em sua essência já possui uma linguagem, a qual tem como diferença da nossa apenas o fato de ser gestual.
É importante mencionar que os surdos precisam ter contato com a sua linguagem gestual, se possível desde crianças, para desfrutarem de um ensino apropriado e consigam se comunicar para romper a barreira do desprezo e do preconceito social, pois geralmente eles são interpretados como deficientes mentais, ou criados de maneira inadequada, já que geralmente, os pais não têm noção de como lidar com seus filhos surdos e preferem mimá-los ou deixar que façam sempre o querem. Entretanto, tal forma de educar faz com que estas crianças envelheçam cada vez mais solitárias e emersas em seu próprio mundo interior.
O aprendizado de Libras não foi e não continua sendo o suficiente para fazer com que os surdos consigam conviver em harmonia com a sociedade, pois, além disso, é necessário que os ouvintes (pessoas não surdas) tratem os surdos com respeito, carinho e atenção. Enfim, a maior deficiência que um surdo enfrenta desde a antiguidade não é sua deficiência física, mas principalmente a intransigência e o preconceito daqueles que são ouvintes.
Dicas:
Assistam o filme baseado na vida real de Helen Keller: “O milagre de Anne Sullivan (1962)”
Sinopse: A incansável tarefa de Anne Sullivan (Anne Bancroft), uma professora, ao tentar fazer com que Helen Keller (Patty Duke), uma garota cega, surda e muda, se adapte e entenda (pelo menos em parte) o mundo que a cerca. Para isto Anne Sullivan entra em confronto com os pais da menina, que sempre a mimaram e fizeram suas vontades, deixando assim de educá-la com medo de que ela sofresse.
Sinopse: este livro apresenta o impressionante relato autobiográfico de Helen Keller (1880-1968), americana que, tendo ficado cega e surda aos 18 meses de idade, em fins do século XIX, conseguiu aprender a ler, escrever e falar, dominar línguas, graduar-se em filosofia e tornar-se escritora reconhecida. Com a chegada da professora Anne Sullivan à sua casa, quando Helen Keller tinha pouco menos de sete anos, seu mundo transformou-se: aprendeu a se manifestar através das palavras, até então desconhecidas, a expressar seus desejos, seus sentimentos, entendeu regras, etc. Enfim, um relato maravilhosamente emocionante!
Idianara Lira Navarro é apaixonada pelo universo literário, sou fundadora e criadora de conteúdo do blog Encanto Literário e de suas redes sociais desde 2011. Secretária em tempo integral e preparadora e revisora textual freelancer, presto serviços para empresas, autores e editoras independentes.
Sinto uma profunda realização pessoal, ao contribuir para o aperfeiçoamento de textos e obras literárias. Busco constantemente aprimorar meus conhecimentos e adoro participar de antologias literárias para exercitar a escrita criativa.
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