Segunda Poética – “Minha Biblioteca” – J. G. de Araújo Jorge

Idianara Lira
 

Minha Biblioteca

Pátria e lar do pensamento,
porto do coração.
Minha loja de sonhos, mercado de emoções
onde faço pelas madrugadas a minha “feira”
para reabastecer meu espírito de realidades e ficções
e sobreviver.

Aí estão as prateleiras sortidas, estoques inesgotáveis
de fantasias a experiências
para a minha fome de conhecimentos, minha sede
de descobertas,
minhas ânsias de beleza.

É só estender a mão e colher o livro
como um fruto maduro que lentamente degusto
e, milagrosamente,
permanece inteiro, íntegro, intacto
entre folhas e flores
e surpreendentemente se renova e multiplica
em inusitados sabores.

Minha biblioteca
parque de papel e palavras
onde me perco em andanças e onde me reencontro
em tantos caminhos desconhecidos,
bosque de tantos livros, como as árvores
com quem Beethoven conversava
em seu bosque de Bonn.

Meus livros, companheiros pacientes e silenciosos
com quem diálogo horas sem conta,
que não discutem, não alteiam a voz
em tantas discordâncias inevitáveis,
e humildemente se fecham e se recolhem
a um simples gesto meu de impaciência, cansaço
ou de sono.

Minha biblioteca,
abrigo certo
oásis de águas e sombras
no imenso deserto,
que me faz decolar de tantas realidades
e planar como uma asa-delta
sozinho, sobre paisagens insuspeitadas.

Minha biblioteca,
pousada no caminho
onde me sento, a pensar,
e onde chego a esquecer que há um mundo
rosnando ameaças ao redor,
e adormeço como um menino
feliz…

(J.G. de Araújo Jorge)

José Guilherme de Araújo Jorge, conhecido como J. G. de Araújo Jorge nasceu no estado do Acre, no dia 20 de maio de 1914 e ficou conhecido como o “Poeta do Povo e da Mocidade”, pela sua mensagem social e política e por sua obra lírica, de linguagem simples, impregnada de romantismo moderno, mas às vezes dramático.

Além de escritor, foi também locutor e redator de rádio, professor, advogado, publicitário, jornalista e deputado federal. Faleceu no Rio de Janeiro em 27 de janeiro de 1987.

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