Resenha: Água Fresca para as Flores – Valérie Perrin

Idianara Lira

“Acreditamos que a morte é uma ausência, quando, na verdade, é uma presença secreta.” (pág. 199)

Água fresca para as flores certamente se não for o meu livro predileto de 2022, será um deles, pois, é uma obra que impressiona do começo ao fim: prende o leitor, o surpreende, emociona, causa reflexões e mexe com todos nossos sentimentos. É impossível não se afeiçoar por Violette Toussaint, personagem principal que nos conduz através dos caminhos difíceis e repletos de reviravoltas de sua vida.

SINOPSE:
Os dias de Violette Toussaint são marcados por confidências. Para aqueles que vão prestar homenagens aos entes queridos, a casa da zeladora do cemitério funciona também como um abrigo diante da perda, um lugar em que memórias, risadas e lágrimas se misturam a xícaras de café ou taças de vinho. Com a pequena equipe de coveiros e o padre da região, Violette forma uma família peculiar. Mas como ela chegou a esse mundo onde o trágico e o excêntrico se combinam?

Com quase cinquenta anos, a zeladora coleciona fantasmas — uma infância conturbada, um marido desaparecido e feridas ainda mais profundas —, mas encontra conforto entre os rituais e as flores de seu cemitério. Sua rotina é interrompida, no entanto, pela chegada de Julien Seul, um homem que insiste em deixar as cinzas da mãe no túmulo de um completo desconhecido. Logo fica claro que essa atitude estranha está ligada ao passado difícil de Violette, e esse encontro promete desenterrar sentimentos há muito esquecidos.

À medida que os laços entre os vivos e os mortos são expostos, acompanhamos a história dessa mulher que acredita de forma obstinada na felicidade, mesmo após tantas provações. Com sua comovente e poética ode ao cotidiano, Água fresca para as flores é um relato íntimo e atemporal sobre a capacidade de redenção do amor.

Fiquei tão encantada por este livro a ponto de ser difícil escrever esta resenha. Parece que faltam adjetivos suficientes para descrever o quanto Água fresca para as flores é esplêndido! Sua narrativa mescla com maestria acontecimentos do passado e presente não apenas da personagem principal, mas também daqueles que fazem parte de sua vida.

“Depois que os portões são fechados, o tempo é meu. Sou a única dona dele. É um luxo ser dona do próprio tempo. Acho que é um dos maiores luxos que um ser humano pode dar a si mesmo.” (pág. 46)

Assim que li a sinopse fiquei curiosíssima para saber quais caminhos conduziram a personagem a se tornar uma zeladora de cemitérios e se era algo que a deixava feliz. Então, aos poucos e com uma naturalidade graciosa, a autora nos conduz por todas as etapas da vida de Violette a ponto de ser impossível não se apegar a ela, querer abraçá-la, ser sua amiga ou fazer parte de sua existência. A personagem passa por tantos problemas como por exemplo ter sido abandonada quando ainda era um bebe e nunca ter conhecido seus pais até desaguar no relacionamento abuso e conturbado que viveu com seu desaparecido marido.

“Tenho certeza de que muitos canalhas descansam aqui. Mas a morte não diferencia os bons e os maus. Além disso, quem nunca fez besteira pelo menos uma vez na vida?” (pág. 18)

Apesar de tudo que viveu, Violette é uma mulher forte, admirável e que consegue enxergar e valorizar a beleza das coisas simples, como por exemplo o cultivo de uma horta, o cuidado com os animais o apreço pelo local em que vive e com aqueles que trabalham com ela, entre outros. Pensa em uma personagem com várias camadas a serem desvendadas. Porém, claro que existem momentos do livro em que ela se entrega ao torpor e a tristeza, afinal a vida não é feita apenas de situações felizes, mas ainda nestes, ela consegue se alçar novamente a vida. Enfim, Água fresca para as flores aborda muito assuntos ligados a morte, mas é acima de tudo, uma obra sobre a vida que todo mundo deveria ler!

“Não me encaixo nas coisas normais. Nunca me encaixei nas coisas normais. Quando faço um teste em uma revista feminina, tipo ‘você se conhece?’ ou ‘Conheça-se melhor’, nunca há uma resposta muito clara para mim. Sou um pouquinho de tudo.” (pág. 73)

VALÉRIE PERRIN nasceu em 1967, em Remiremont, e cresceu na Borgonha. Fotógrafa e roteirista, publicou seu primeiro romance em 2015, o best-seller Les Oubliés du dimanche. Desde então, já ganhou diversos prêmios, teve suas obras traduzidas para trinta idiomas e foi uma das autoras mais vendidas na França em 2019. Água fresca para as flores é seu primeiro livro publicado no Brasil.

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