Segunda Poética: Meio-Dia – Orides Fontela

Idianara Lira

Meio-Dia

Ao meio-dia a vida
é impossível.

A luz destrói os segredos:
a luz é crua contra os olhos
ácida para o espírito.

A luz é demais para os homens.
(Porém como o saberias
quando vieste à luz
de ti mesmo?)

Meio-dia! Meio-dia!
A vida é lúcida e impossível!

(Orides Fontela)

ORIDES FONTELA (1940-1998) foi uma das mais importantes poetas brasileiras da segunda metade do século XX. Sua obra se destaca e se diferencia por um alto rigor unido a uma particular beleza áspera, que a tornam, contra a passagem do tempo, cada vez mais contemporânea. Apesar de precocemente reconhecida, consagrada e premiada, a paulista Orides Fontela, enquanto mantinha sua alta produção poética, depois de cursar filosofia na USP nos anos 1960-70, entregou-se a uma vida cada vez mais reclusa, na verdade, antissocial, até morrer sozinha em um sanatório para tuberculosos em Campos do Jordão.

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