Resenha: Amnésia – Ricardo Lima

Idianara Lira

“Algumas coisas podem não condizer com a realidade, mas quem conseguirá provar que não sejam reais? Às vezes, na cabeça de um louco, a realidade é apenas um sentimento passageiro, e sua loucura é a companheira diária que conduz seu arremedo de vida, em que qualquer semelhança com a realidade é mera realidade. Tá, tá! eu sei que o ditado não é assim.” (pág. 15)

Um livro pode ser capaz de causar asco e mau estar físico em quem o lê? Com certeza! Ânsia de vômito e dor no estômago, me golpearam durante a leitura de Amnésia, obra do autor nacional Ricardo Lima. Foi algo tão angustiante, que considerei profundamente  não concluir a leitura coletiva do livro.

SINOPSE:
Crimes e criminosos agraciados pela impunidade da justiça (dos deuses, dos homens…) podem fazer surgir pessoas que cometem crimes contra os impunes, mas também anseiam a impunidade como recompensa de ter feito justiça. Traumas de infância associados a este senso de justiça distorcido (ou não) e uma boa dose de loucura rondam essa ficção, que pode ser mais real e atual do que você imagina.

Assim como em todas as outras leituras coletivas que participei da LC Agência de Comunicação, esta foi muito bem organizada e desde minha inscrição fui alertada de que o livro abordava temas fortes como pedofilia, estupro, problemas psicológicos, suicídio e drogas, os quais poderiam funcionar como gatilhos emocionais.

Entretanto, confesso que o nível de violência (em suas mais variadas formas) e os acontecimentos horríveis e estarrecedores que permeiam a infância do protagonista/narrador já nas primeiras páginas da obra, me desequilibraram totalmente… Talvez um psicopata, ou uma pessoa totalmente desprovida de humanidade e empatia, consiga passar incólume ao processo de leitura de Amnésia. A narrativa é uma carta de despedida, na qual o protagonista/narrador compartilha os motivos que o levaram a se tornar (como ele mesmo se auto intitula), um monstro e, deixa claro desde o começo que não devemos ter pena dele. 

“Peço um devido tempo para que eu possa me recompor. Espero que você esteja bem até aqui. Vou pegar meu copo de cocaína. Essa parte vai ser “Intensa” para mim, porém não sinta pena. Eu continuo sendo um monstro.” (pág. 28)

Porém, apesar de todos os males que Amnésia me causou durante sua leitura, não posso deixar de mencionar os aspectos que apreciei. Como por exemplo, a criatividade do autor, em desenvolver uma narrativa onde o protagonista, tenta criar uma relação de proximidade com o leitor, interagindo a todo momento com este, o que me ajudou a tomar fôlego para prosseguir com a leitura. 

“Eu disse que seria um novo início, não é? Talvez eu tenha múltiplas personalidades, talvez só a depressão, talvez apenas a maldade impere, ou quem sabe meu senso de justiça seja meio distorcido” (pág. 76)

Amnésia é um obra de ficção, mas infelizmente seus temas abordados são reais e mostram como a negligência de dramas pessoais, pode destruir a vidas das pessoas afetadas, as quais, muitas vezes carregam traumas irreversíveis. Enfim, apesar de ser uma leitura capaz de causar consternação e sofrimento aos seus leitores, ela é importante, pois serve como ferramenta capaz de suscitar discussões sobre temas ainda considerados tabus em nossa sociedade.

RICARDO MARCELINO DE LIMA, é o caçula de 4 filhos de Josefa e Renalvo. Paulista de sangue nordestino, branco de sangue cafuzo, é professor de Taekwondo e Educação Física, se dedicando à arte mágica da escrita desde a infância.

Terapeuta Integrativo, apaixonado por rock, fã da natureza, admirador do surreal e amante da ciência.

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