Resenha: Catarse – Mauro Felippe

Hiato
Entre ultrapassar os pequenos obstáculos
da fraqueza humana
pela grandeza da alma…
há um enorme hiato

A ser percorrido.

A poesia sempre me impressiona e surpreende, devido a sua versatilidade. Ela é uma forma de expressão que transcende as barreiras da linguagem comum, brinca com as palavras, o ritmo, a métrica, as imagens,  as metáforas e desafia as convenções da prosa, permitindo que os poetas explorem emoções, transmitam ideias, reflexões e a complexidade da experiência humana.

SINOPSE:
“CATARSE” é um livro de poemas que explora a força da linguagem para libertar e expressar o âmago do ser. Com versos cuidadosamente elaborados, o livro dá vida ao que antes era etéreo e convida o leitor a uma jornada de autodescoberta.

Com uma linguagem envolvente, “CATARSE” é um livro que emociona, inspira e transforma. Além disso, possui uma edição especial de luxo, com ilustrações coloridas e capa dura, tornando a experiência de leitura ainda mais especial e memorável.

É uma leitura imperdível para os amantes da poesia e para aqueles que buscam uma conexão mais profunda em uma jornada poética para o interior do ser.

Palavras libertam e expressam o âmago do ser.

Palavras podem sintetizar ideias, materializar sentimentos, expressões.

Palavras tornam real aquilo que é etéreo.

Palavras, sobrepostas uma às outras, multifacetadas, colorem, corrompem, expurgam, purificam, transformam.

Catarse.

Cada poeta traz sua perspectiva única para essa forma de arte, criando uma colcha de retalhos diversificada de vozes e estilos e alguns deles, à medida que a sociedade muda e se desenvolve, respondem a essas transformações, explorando novas questões e técnicas poéticas, este é o caso do autor Mauro Felippe e sua obra Catarse.

Considero este livro uma grande crítica social que destaca preocupações relevantes do autor sobre vários problemas existentes em nosso país como, por exemplo: a corrupção politica, a exclusão e a desigualdade social, o preconceito, a discriminação racial, de gênero ou de classe, a violência, as fake news, o descaso com a saúde pública e a educação, entre outros que também assolam a sociedade mundial.

Desigualdades
Numa sociedade desigual
hipócrita até nos princípios
não há como insistir
que todos sejam iguais.

Em Lisarb,
todos nunca foram iguais
perante as leis, fortunas e direitos.

Diferente de outras obras poéticas que costumo ler e que costumam me causar reflexões voltadas para o meu autoconhecimento e analisar minha própria experiência de vida, em Catarse meus pensamentos foram para a sociedade na qual estou inserida. Seus sofrimentos, desejos, traumas, anseios e luta para sobreviverem em meio a tantas dificuldades. Confesso até que me emocionei com o poema O Plantão, no qual o poeta conta a jornada de uma neta em busca de atendimento médico para sua avó que infelizmente não resiste “faleceu nas mãos do Estado. Restou-lhe a cova, sem lápide e rasa.” 

Outro aspecto importante a ser mencionado é o design do livro que é diferente e belíssimo! Chama atenção, a ausência de numeração nas páginas, mas que em nada desmerece o projeto gráfico: capa dura com aplicação de brilho localizado, fitilho, impressão em papel couché de 115 g/m² e as ilustrações de Rafael Nobre de cores fortes e vibrantes que conversam com os poemas, fazem com que o livro impresso seja uma verdadeira obra de arte que encanta os leitores visual e emocionalmente!   

Ordenamento do caos
Passado, passado
Mesmo ultrapassado
Este nunca vai embora.

O futuro
Onde mora a esperança
Nunca chega por inteiro.

O presente
Não passa de um território
De negociação — ou atrito — entre os povos.

É o movimento da história
Talvez demarcado individualmente —
Por batalhas íntimas e pessoais.

São categorias arbitrárias
Pelas quais tentamos ordenar o caos
Causado pela existência humana.