Resenha: Clube do Abacate – Mariana Torres

Idianara Lira

“Laila sorriu com certa compaixão. Teve de aprender muito cedo que a vida não era um conto de fadas e que o ‘para sempre’ se tratava de uma lenda urbana. De qualquer maneira, achava bonita a visão romantizada da amiga. Era uma pena que perdia tanto tempo pensando em controlar o futuro, em vez de aproveitar o presente. (pág. 17)

O livro Clube do Abacate da autora Mariana Torres, foi mais uma grata surpresa de 2021 e uma leitura muito gostosa. Tive o prazer de conhecer a obra através de uma leitura coletiva organizada pela LC Agência de Comunicação e imediatamente fiquei encantada pela capa belíssima e pela sinopse.

SINOPSE:
Uma irmã e um irmão. Uma casa de campo aos fins de semana. Uma família linda, rica, feliz e perfeita. Pelo menos, foi o que lhes contaram. 
À medida que os dois millenials começam a jornada de transição para a primeira fase da vida adulta, dão-se conta de que nem tudo é o que parece ser em seu primoroso lar. Com a perda da inocência infantil, são obrigados a enxergar certas intolerâncias dos pais e avós e terão de lutar (ou não) para se enquadrar nos padrões impostos por seus ascendentes. Talvez tenham de lidar com algumas situações desconfortáveis. Talvez seja a hora de tomar uma decisão em nome dos injustiçados. Mas talvez eles mesmos sejam as vítimas da família. 
A resposta pode estar na sua própria relação fraternal. Ou na falta dela.

“Antes mesmo de ler qualquer sinopse das obras na orelha ou no verso, abria cada livro, passava seus dedos com delicadeza sobre cada uma das páginas e as cheirava com gosto. Esse processo a deixava num estado incessante de felicidade. (pág. 41)

As primeiras impressões de mundo bem como algumas características de nosso caráter, são influenciadas pelo seio familiar que é capaz de moldar de forma positiva, ou não, nossa personalidade e conceitos éticos. Entretanto, acredito que o adulto que nos tornamos se deve em grande parte a nossas escolhas, por exemplo: se alguém é criado por pais preconceituosos e nunca apreciou tais comportamentos, com certeza não irá replicar as falhas de seus pais. Por outro lado, existem aqueles que infelizmente repetem os mesmos (ou fazem pior) erros da educação a que foram submetidos e as influencias que permearam sua infância e adolescência.

Preconceito social, racial, homofobia, descoberta da sexualidade, machismo são alguns dos assuntos que o livro critica de forma sutil, bem estrutura e através de uma narrativa que cresce a cada virada de página. Assim, o leitor passa a conviver com uma família afortunada, onde seus membros, principalmente os adultos, possuem atitudes que consideram “supostamente corretas”, mas que refletem todos os preconceitos que eles tendem a normalizar. Tais atitudes são presenciadas pelos irmãos Juju (que é muito mimada e ao mesmo tempo pressionada por ser menina) e Deco (que está sempre em busca da aprovação da família), os quais ainda precisam lidar com as mudanças e os dilemas acarretadas pela transição da infância para a adolescência.

“O rosto de Juju virou um pimentão. Sentia um enorme desconforto quando diziam que não saberia fazer algo bem só pelo fato de ter nascido do sexo feminino. Sabia que tinha que lidar com isso, era a maneira como o mundo funcionava e, muito provavelmente era verdade, mas se sentia profundamente incomodada..” (pág. 104)

“Parecia absurdo. Juju nunca havia considerado que sua mãe ou seu pai pudessem errar. As funções dos adultos naturalmente incluíam saber diferenciar o certo do errado e passar esses ensinamentos aos filhos. Assim como ela faria um dia.” (´pág. 112)

O Clube do Abacate foi uma leitura que me surpreendeu, pois eu não imaginava que a obra com sua capa meiga e a família aparentemente digna de comercial de margarina das primeiras páginas, apresentaria tantas criticas e reflexões sobre o período em que nós geração millenials (os nascidos entre 81 e 95) crescemos e fomos educados. Confesso que já vivi ou presenciei algumas atitudes e situações ruins descritas pela autora e que infelizmente mesmo com a passagem dos anos, muitas delas ainda se permanecem.

MARIANA TORRES é leitora voraz, canceriana, crazy cat lady, mãe de um pequeno arteiro e à espera de outro. Após uma vida cheia de emoções (embora poucas delas positivas), atuando como advogada e empreendedora, a autora ingressou no mundo da escrita de maneira despretensiosa no começo da pandemia, o que acabou lhe rendendo seu romance de estreia. Inspirada por escritoras mulheres e suas mais variadas obras, pegou gosto pela coisa e pretende continuar trilhando seu caminho literário pelos próximos muitos anos. Às vezes, a autora (junto com um pouquinho das histórias de outras pessoas) é a Rita. Você pode encontrar a Mariana no Instagram em @marianamt e a Rita em seu site (onde escreve alguns de seus devaneios) ou no Twitter em @ritanunesramal1.

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