Resenha Literária: Sem pé com cabeça – Bert Jr.

A obra Sem pé com cabeça se destacou como uma leitura singular em meio a tudo que li nos últimos tempos. As crônicas de Bert Jr., são impregnadas de um humor perspicaz, ocasionalmente ácido, e uma ironia marcante. Ao mesclar temas do cotidiano com elementos ficcionais, o autor nos conduz por uma jornada de reflexões inusitadas, que frequentemente resultam em momentos de diversão e leveza.

SINOPSE:
A imaginação corre solta nesta coleção de crônicas, em que se projetam temas, curiosidades e cenários da experiência contemporânea.
Aqui o imponderável, o surpreendente, o inusitado escrutinam o possível com deliciosa irreverência.
Aquilo que nas narrativas soa como estranho, ou mesmo maluquice, acaba por revelar-se parte de uma técnica pouco convencional de virar os assuntos ao reverso, como se faz ao desenformar um bolo ou assar uma panqueca. É a hora em que a consistência da massa é testada. Aliás, gastronomia é tema recorrente, junto a inúmeros outros: animais de estimação, obras literárias, linguagem, modismos, presentes, ovnis, história(s) etc.
Quem ler este livro sentirá faltar-lhe o chão, tendo, ao mesmo tempo, a cabeça povoada de ideias, justo como sugere o título.
Um desafio dos mais divertidos!

Os mais diversos assuntos permeiam as páginas do livro e a crônica que abre a coletânea, se destaca e me ganhou de cara como leitora. Ela funciona quase como a chave mestra que abre todas as outras portas dos temas subsequentes. Afinal, quem nunca se viu obrigado a encarnar um personagem para lidar com situações fora do comum em nossa rotina?

“Por incrível que possa parecer, de vem em quando a gente vira personagem. Isso acontece, mais que tudo, em situações de convívio alargado, quando saímos da nossa zona de conforto social. Especialmente nas ocasiões em que, chamados a participar de eventos — reuniões, festas, jantares, aniversários —, somos colocados num círculo com o qual não estamos familiarizados e nos vemos na contingência de ter que interagir com pessoas das quais pouco sabemos e que, por sua vez, também pouco sabem de nós.” (trecho de: O Dilema Pessoa — Personagem, pág. 9)

A criatividade do autor parece não conhecer limites! Ele aborda uma ampla gama de temas, desde os usos da língua até a evolução linguística, sugestões de presentes diferenciados, ditos populares, leituras não indicadas, cultivo de plantas inusitadas, os benefícios de se ter um gambá como animal de estimação (o qual me arrancou muitas risadas!), política, educação, cultura, comportamento humano, paródias de histórias e livros clássicos, entre outros.

“… a internet e as redes sociais passaram a ser os novos campões da autoridade sobre a informação, sem possuir, em contrapartida, um pingo de responsabilidade quanto ao processo educativo dos jovens clientes.” (trecho de: Novos Ditos, pág. 32)

Em Sem pé com cabeça, essa variedade de ingredientes, aliada à sagacidade do autor e ao seu vasto conhecimento de mundo e de várias línguas, resulta em narrativas únicas que correspondem à ilustração da capa (que, aliás, é belíssima!). É uma jornada verdadeiramente inusitada, porém, para ser compreendida e apreciada em sua totalidade, é crucial ler com a mente aberta e reconhecer a presença do sarcasmo e do humor que, em muitos momentos, não só nos arrancam risadas, mas também nos conduzem a reflexões pertinentes sobre a atualidade.

“Mas é claro que até aqui só o que fiz foi dar vazão ao meu lado de humorista, permitindo que um ceticismo irônico viesse contagiar o texto todo.” (trecho de: Divisa, pág. 133)