Resenha: Sol e Solidão em Copacabana – Aliel Paione

Idianara Lira

” — Até quando, Riete, este país rico conviverá com a imensa desigualdade social, com o sofrimento dos humildes e com a prepotência dos poderosos? Até quando prevalecerá o espírito do relho nas costas dos negros, metáfora do que está introjetado no inconsciente da sociedade brasileira? Daqueles que se julgam brancos e branquinhos de cabelos bons? Quando essa gente pretensiosa perderá esse ranço e será menos ignorante e mais solidária? — indagava João Antunes.” (Sol e Solidão em Copacabana, pág. 436)

Sol e Solidão em Copacabana, é o terceiro volume de uma trilogia do autor nacional Aliel Paione, a qual eu não conhecia até me inscrever para a leitura coletiva da LC Agência de Comunicação. Apesar de não ter lido os volumes anteriores, consegui compreender a narrativa e apreciar seu pano de fundo histórico que ocorre principalmente no Rio de Janeiro, com a ascensão de Getúlio Vargas ao poder, e conduz posteriormente o leitor através do período da ditadura.  

SINOPSE:
Este volume encerra a trilogia e exibe duas novas personagens: Elisa e Amandine, tão instigantes quanto as já conhecidas nos dois volumes anteriores. Outras coadjuvantes gravitam em torno delas, formando um caleidoscópio de personalidades fascinantes. No primeiro livro, SOL E SONHOS EM COPACABANA, sobressaíram-se o diplomata Jean-Jacques Chermont Vernier, a belíssima Verônica e sua filha Henriette, madame Louise, proprietária do cabaré Mére Louise, e o senador Mendonça.

No segundo livro, SOL E SOMBRAS, outro personagem, João Antunes (profundamente complexo e de uma sensibilidade quase mórbida), integra-se à vida e à trajetória de Verônica e de sua filha Riete, bem como à de Marcus, vítima trágica de um cruel preconceito. Talvez este segundo volume constitua um mergulho hesitante e sombrio entre o primeiro livro e o desfecho da trilogia, realizada neste SOL E SOLIDÃO EM COPACABANA.

Há, porém, um fio condutor que perpassa sutilmente a narrativa do romance e torna-se o seu objetivo: a tentativa superficial de associar metaforicamente e de modo agradável os reveses da história brasileira às vidas dos personagens. Transformar suas vicissitudes, seus sofrimentos intensos e frustrações pessoais em nossos entraves históricos; agregar as suas vãs buscas de felicidade e de realizações pessoais às suas vidas dúbias e contraditórias, e juntá-las, transformando-as em algo único, similar à nossa dificuldade de entender o Brasil (ou de nossa vontade, sempre fracassada, de que ele fosse melhor para todos). Assim, as personagens existiram com esse mero desígnio, complexo e cheios de obstáculos, como decorre a história brasileira. Afinal, por que um país tão belo e exuberante, como a linda Verônica, insiste em nos frustrar? Os sonhos e fracassos desses personagens simbolizaram esse desejo.

Apesar de no contexto geral gostar do livro, confesso que foi extremamente desafiador para mim apreciar o protagonista, João Antunes, devido às suas atitudes e dúvidas existenciais que parecem ser impulsionadas por um egocentrismo exacerbado e desmedido. A possibilidade de odiar o personagem surge como uma estratégia do autor para cativar nossa atenção à narrativa, proporcionando uma observação atenta dos feitos de alguém que, em certos momentos, assemelha-se a uma criança mimada, constantemente em busca do próximo objeto de desejo que capte sua atenção. Apesar da indecisão que permeia toda a trama, a história se enriquece significativamente com um substancial pano de fundo histórico.

 Outra característica que me causou inicialmente certa dificuldade em me prender a narrativa, foram os parágrafos extensos. Aqui me recordei do grande José Saramago, cujas histórias intrigantes e criativas, são construídas por meio de frases quase infinitas, proporcionando uma experiência de leitura, na minha opinião, um tanto cansativa. Apesar desses aspectos que me incomodaram e de acreditar que não ter lido os volumes anteriores prejudicou minha avaliação geral da trilogia, apreciei bastante a abordagem emocional das personagens e o contexto histórico, especialmente com a participação de figuras importantes da nossa história, o que me deixou com um gostinho de quero mais.

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ALIEL PAIONE é engenheiro e Mestre em Ciências e Técnicas Nucleares pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), onde lecionou. Trabalhou com salvaguardas nucleares na estatal Nuclebrás, no Rio de Janeiro (RJ), e foi professor de Física na Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC Minas). É autor de “Sol e Sonhos em Copacabana e “Sol e Sombras”. A pedido do consulado dos Estados Unidos, em São Paulo, as obras da trilogia integram o acervo da Biblioteca do Congresso dos Estados Unidos, em Washington.

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